Num interessante artigo de opinião publicado na edição de ontem do jornal Público, intitulado "O silêncio ensurdecedor do PSD", Pedro Norton, observa, sobre os casos de Luis Montenegro que trouxeram o derrube do Governo e do Parlamento deste Portugal adormecido: "O silêncio de que falo é o das dúvidas que não se levantaram, das vozes que não questionaram, dos incómodos que não se ouviram, das críticas, ainda que veladas, que não se fizeram".
Eu explico (como ex-militante do único partido em que militei): dos estatutos do PPD-PSD (que é assim que ainda se chama o partido, embora o PPD de Sá Carneiro esteja fora de moda) resulta para os militantes um dever de lealdade. Integrei o Conselho de Jurisdição do partido, onde nos debruçávamos, entre outras coisas essenciais para a democracia, sobre a falta de lealdade de membros do partido. Literalmente, mesmo comportando a possibilidade de divergências, no quadro da natural liberdade de expressão da opinião, existe a possibilidade de sancionar disciplinarmente um militante por falta de lealdade (os estatutos foram aprovados pelo Tribunal Constitucional). Por isso, para poder falar livremente sobre a rampa descendente em que se encontra o PPD-PSD, sem ser acusado de deslealdade, desfiliei-me.
Estranho que Cavaco Silva ainda não tenha feito o mesmo que eu.
Luis Miguel Novais