A partir de ontem, é oficial: o atual Primeiro-ministro deste Portugal adormecido encontra-se em "exclusividade total". São palavras do próprio. Proferidas em conferência de imprensa em São Bento, rodeado por membros do Governo, Luis Montenegro deixou de ser empresário, acabou a transferir a sua empresa para os filhos. É uma dupla originalidade, considerando o pleonasmo.
Quando assumi funções públicas tive de preencher uma série de papelada do género que hoje se chama compliance, transparência, strip-tease, cortinas de fumo, engana-tolos, you name it. Recordo um episódio divertido: um dos formulários foi, como tinha de ser, dirigido ao Ministério Público. Que mo devolveu, em carta fechada, sem qualquer explicação. Acabei por compreender e apreciar a deferência. É que, por falta de hábito de exclusividade, eu havia acrescentado a minha profissão de advogado - devo dizer que sei que não fui o único: o Presidente Jorge Sampaio disse-me que também punha sempre advogado na profissão quando preenchia formulários.
Cabe agora ao Ministério Público averiguar se, enquanto não esteve em "total", o Senhor Primeiro-ministro esteve em "exclusividade", como manda a lei.
Luis Miguel Novais