Em arrumações, encontrei dois recortes do jornal Diário de Notícias sobre uma minha encarnação como titular de um alto cargo público, que re-publico neste Portugal Adormecido, para memória futura:
A - Diário de Notícias de domingo, 11 de março de 2012, página 14, secção Política, coluna "A Vespa":
"Dos Estaleiros para a Casa da Música - Um administrador da Empordef, a holding estatal das Indústrias da Defesa, pediu há dias a demissão do cargo. O gestor do Porto, Luis Miguel Novais, justificou a medida com a inércia do Ministério da Defesa em tomar decisões, nomeadamente sobre os Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Mas a Vespa está em condições de revelar pormenores adicionais e não oficiais sobre este processo, com base nas informações recolhidas: a tutela tinha aconselhado Luis Miguel Novais, há várias semanas, a deixar o cargo; o visado optou por entrar de imediato em férias, embora disponibilizando-se a participar em reuniões do conselho de administração após esse descanso; ao comunicar a decisão ao ministro, José Pedro Aguiar Branco, Luis Miguel Novais "meteu-lhe uma cunha para ir para a Casa da Música". Uma instituição também em grandes dificuldades - mas, é certo, bem mais elegante".
B - Diário de Notícias de terça-feira, 13 de março de 2012, página 9, secção Opinião, coluna "Esclarecimento":
"Ao abrigo da Lei de Imprensa, o DN recebeu de Luis Miguel Novais o esclarecimento que a seguir publica na íntegra, sobre um artigo que o visava na página de domingo Vespa:
"Publicou o DN um texto sob o título "Dos Estaleiros para a Casa da Música",na página 14 da edição de domingo, em que sou pessoalmente visado (ou melhor, vespado), sem ter sido ouvido.
Ao abrigo da Lei de Imprensa, agradeço a publicação dos seguintes esclarecimentos/desmentidos:
1. Na sequência da minha renúncia ao mandato de administrador executivo da Empordef - Empresa Portuguesa de Defesa (SGPS), S.A., que comuniquei oralmente ao Senhor Ministro da Defesa no dia 2 de março e formalizei por carta no dia 5 de março, entrei efectivamente em gozo de férias. Não umas férias elegantes na neve em plena execução de mandato. Apenas as férias legalmente devidas a qualquer administrador em cessação de funções, em casa, sem trazer no bolso qualquer indemnização.
2. Dos "pormenores adicionais não oficiais" obtidos pela Vespa, ressalta que a tutela me tinha "aconselhado, há várias semanas, a abandonar o cargo". O que, assim apresentado, como boato, tem essa dificuldade de cavalgar equívocos e não se conseguir desmentir por não estar em discurso directo. Aproveito para esclarecer que ninguém da tutela me demitiu. O único facto é a minha demissão, renunciando a continuar a exercer o cargo nas condições actuais. E manifestando publicamente a minha discordância, como era meu dever de ex-titular de um alto cargo público que se demite por motivos profissionais, estando em causa empresas de grande importância para a economia nacional.
3. Igualmente filha da "art-propaganda" é a afirmação da Vespa segundo a qual: ao comunicar a decisão ao Senhor Ministro "meteu-lhe uma cunha para ir para a Casa da Música". Esclareço que não fui convidado e que se for convidado para a Casa da Música, por quem de direito, ponderarei devidamente a questão, já que não viro a cara a grandes dificuldades como as que esta reconhecidamente atravessa hoje, segundo a administração actual. De resto, não vou comentar uma conversa a dois com o Senhor Ministro da Defesa. Nem compreendo o alcance da alusão das fontes "não oficiais"; teria sido porque alguém, algum dia, me viu meter cunhas? Porque alguém, algum dia, viu o Senhor Ministro da Defesa dar cunhas? Não me acredito. Não brinquemos com assuntos sérios e que envolvem muitos portugueses que atravessam dificuldades e clamam por liderança.
Sobre a motivação da minha demissão da Empordef, dia 20 de março irei ao Parlamento prestar os devidos esclarecimentos".
E assim sucedeu. E o folhetim não teve sequência. Ganhou a verdade.
Luis Miguel Novais
Riqueza, civilização e prosperidade nacional