Dados oficiais confirmam publicamente a inédita presença explícita de aviões bombardeiros russos junto a Portugal. E não vieram em passeio, ou por convite, ou distracção. O urso russo mostrou as garras aqui ao pé do nosso jardim, após a escalada provocatória que a Nato tem vindo a montar-lhe desde 2004, mas muito em especial após a infeliz declaração final da cimeira da Nato de Setembro de 2014.
E como reagiram os nossos dirigentes políticos a esta inédita demonstração dos russos sobre, infelizmente, poderem, se quiserem, bombardear Portugal, sobrevoando tranquilamente águas internacionais - e desencadearem a partir daqui uma nova guerra mundial?
Assim confrangedoramente:
O Senhor Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros disse que: "Não é um fenómeno muito simpático, mas também não vale a pena exagerarmos no seu significado” (sic, do Observador).
O Senhor Ministro da Defesa Nacional, na Colômbia (em visita oficial? Defesa Nacional na Colômbia?...), apanhado de surpresa (se não estaria certamente no seu posto... em Portugal), disse que: "o sistema funcionou na normalidade" (sic, também do Observador).
O Senhor Primeiro-ministro (que nos representou na Cimeira da Nato de Cardiff, Setembro de 2014, e é, por isso, responsável pela infeliz declaração, sem reservas, que daí saiu), e o Chefe Supremo das Forças Armadas de Portugal, o Senhor Presidente da República, aos costumes disseram nada.
Sabemos pois, todos, a partir de agora, que a guerra não é uma coisa longínqua, que, tal como sucedeu no passado, não chegará ao terreno aqui em Portugal. Basta um daqueles bombardeiros russos voltar e largar um par de bombas na Praça do Comércio, em Lisboa, para interromper a boçal normalidade do sistema e encontrar motivos para exagerar.
Sobretudo se, da próxima vez, os bombardeiros vierem acompanhados de caças capazes de neutralizarem os nossos. O que, também infelizmente, não é difícil, dependendo apenas do modelo, como sabem todos os que conhecem, portugueses e russos incluídos.
Em que é que eu critico os nossos dirigentes políticos citados perante a fatalidade deste novo fado, ontem tristemente revelado? É simples: deixem de proferir declarações inconvenientes ou resguardar-se em silêncios inoportunos, e mostrem os dentes ao mundo com um sorriso português perante o urso: a guerra mundial (ainda) não é nenhuma inevitabilidade, se alguém usar da necessária e sempre útil inteligência. E agora toca a Portugal.
Luis Miguel Novais
Riqueza, civilização e prosperidade nacional