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Riqueza, civilização e prosperidade nacional

sábado, 15 de março de 2014

A caminho da irrelevância

Quando eu nasci, há cerca de 50 anos, Portugal era um império global. No meu exame da quarta classe, há cerca de 40 anos, ainda tive de declinar rios e linhas de caminho-de-ferro na Europa, em África e na Ásia.

Seguiu-se a alienação voluntária das áreas não europeias do território do Portugal imperial, mediante um processo de "descolonização" de mais de dois milhões de quilómetros quadrados de terra e recursos económicos inerentes. Adveio, posteriormente, um processo de integração europeia do parco remanescente. Que hoje, mais ou menos ficcionadamente, funciona como uma "União" desigual.

O mundo mudou, entretanto. Acelerou-se muito. O dinheiro move-se à velocidade da fibra óptica, mas perdemos a capacidade de emitir moeda. As distâncias encurtaram pelas telecomunicações, auto-estradas e aviões, mas não temos recursos energéticos próprios suficientes para nos deslocarmos sem nos endividarmos. Os países tornaram-se, quase todos, "democráticos" (segundo alguns), ou "plutocráticos" (segundo outros).

Pobretes mas alegretes, soa a antigamente. Mas parece-se cada vez mais com o modo como se vive hoje em Portugal. O Portugal democrático (ou plutocrático) suporta o enorme fardo de um Estado confiscador que teledifunde rifas para cobrar impostos avassaladores, enquanto reduz prestações sociais por escassez de recursos económicos para atender aos cerca de dez milhões de habitantes que, ainda nem há quarenta anos, eram mais do dobro.

Não se pode dizer que tenhamos, hoje, menos Estado ou melhor Estado do que tínhamos no Portugal imperial (que, de resto, durou uns bons 500 anos). Pelo contrário, as regras da União Europeia são, elas próprias, todo um programa de complicações sempre em acrescento de gorduras para Portugal que, visto do estrangeiro, se quer concorrencial “ma non troppo”.

Vivemos um momento de esquizofrenia política: agradecemos muito, de chapéu na mão (pobretes), aos estrangeiros que nos emprestam moeda para rifar (alegretes) os automóveis que não produzimos e, por isso, temos de lhes comprar.

A questão, de modo menos impressivo, é séria e de raízes profundas, prende-se com a nossa soberania e independência milenar, e convida a uma reflexão colectiva: foi para isto que passámos de império global a periferia europeia no tempo de uma geração?

Assim como não creio que devamos arvorar saudades do império perdido, também penso que a revolução dos cravos não deve ser transformada em vaca sagrada; agora que se aproxima dos seus 40 anos, a mim parece-me árvore de frutos secos: pôs-nos, como país, no caminho da irrelevância.

Esta situação de Portugal adormecido nas mãos de estrangeiros e a caminho da irrelevância é uma vergonha!

Luis Miguel Novais