A minha alusão neste Portugal adormecido à "Procissão para o Calvário" de Brueghel, que nada tem de original (um dos temas favoritos do Renascimento), ocorreu-me pela escaramuça relacionada com o chamado "Manifesto dos 70" e o nosso calvário.
Ontem mesmo, no parlamento europeu (cuja cobertura mediática caseira é inversamente proporcional ao impacto real na vida das pessoas em Portugal), o vice-presidente da comissão europeia, Olli Rhen, disse o seguinte sobre a governação futura dos mecanismos de assistência financeira: "no quadro da discussão mais alargada sobre o aprofundamento da União Económica e Monetária, na direcção de uma União genuinamente estável, possivelmente com elementos de uma União Fiscal", poderá vir a ocorrer a criação de um "Fundo Monetário Europeu".
Para um "país de programa" (é assim que Portugal é hoje designado, juntamente com a Grécia, a Irlanda e o Chipre, pelos titulares de altos cargos europeus), isto significará que "solidariedade reforçada apenas poderá ter lugar em contrapartida de responsabilidade reforçada, o que obviamente implica questões de soberania".
Para bom entendedor... tal como no quadro de Brueghel, corremos o risco de perder o importante, distraídos com o foguetório acessório.
Luis Miguel Novais
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Riqueza, civilização e prosperidade nacional