Riqueza, civilização e prosperidade nacional

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

O Erro de Marcelo

Neste dia de comemoração da implantação do regime republicano neste Portugal adormecido, parafraseio o título do livro de António Damásio O Erro de Descartes. A propósito, naturalmente, do nosso atual Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa.

Fui dos primeiros a apoiar, privada e publicamente (aqui e no Porto Canal), a sua primeira candidatura, ainda a mesma nem o era. Aquando da sua recandidatura afirmei a Ana Gomes que me parecia muito bem que se candidatasse (que tinha condições para tal), mas que eu votaria Marcelo. Como votei, das duas vezes. Talvez por isso, sinto-me à vontade para assinalar o erro de palmatória de pessoa tão experiente em funções públicas, a propósito do envio ao Ministério Público de participação criminal contra o Bispo José Ornelas, atual presidente dos bispos em Portugal, e anterior presidente mundial dos Dehonianos - em termos práticos, uma ofensa à Igreja Católica, não enquanto Instituição, ou Estado, mas enquanto assembleia de todos nós, Marcelo incluído, que nos afirmamos católicos e nos podemos sentir legitimamente ofendidos com esta sua atitude.

Marcelo não é Pilatos. O poder do Presidente da República não é chutar para canto. A vantagem de uma república (electiva e com limitação de mandatos) sobre uma monarquia (hereditária e tendencialmente ilimitada no tempo), é o poder moderador. O cidadão que fez uma queixa do bispo ao Presidente da República não esperava que este fosse uma caixa de reexpedição de correio. Eu próprio, que apenas estive em funções públicas nove meses da minha vida, e em funções de muito menor responsabilidade, tive de lidar com situações igualmente delicadas e resolvi-as a contento. Sem precisar de mandar para o Ministério Público (coisa que, de resto, o cidadão sempre poderia fazer), nem de ser Descartes.

Luis Miguel Novais