Riqueza, civilização e prosperidade nacional

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Baía dos Porcos

Ando a ler a História do Mundo de Andrew Marr (que só o é na tradução para língua portuguesa da Texto Editores, de 2014, de Manuel Santos Marques, que cito, já que na edição original em língua inglesa, de 2012, corre pelo menos exclusivista título de A History of the World, ou seja, Uma História do Mundo - de resto, a própria obra refere as anteriores em que se baseia).

Muito interessante. Dou como aperitivo este trecho: "O Antigo Egipto... parece com frequência uma civilização para ser olhada com espanto, não para ser adorada. Quase não toca o mundo moderno. Esfinges e pirâmides tornaram-se um kitsch visual globalizado. Os públicos dos museus fazem fila por todo o mundo para contemplarem as relíquias douradas ou pintadas. Turistas culturais descem às carradas de aviões para verem os templos e os complexos funerários do Vale dos Reis. Todavia, para uma cultura tão duradoura e bem-sucedida, os Egípcios deixaram relativamente poucas marcas sobre as maneiras posteriores de pensar. A religião de Hórus e Osíris gozou de um efémero renascer de interesse durante o século XX entre os amadores do oculto e vigaristas de tenda de circo".

O mesmo século XX de opereta, noutro circo de feras, que brilhantemente cobre um grande realizador e argumentista Português, Henrique Oliveira (que faz o favor de ser meu amigo, embora eu pense que isso não tolhe a objetividade do meu apreço pela sua obra), agora na sua série audiovisual que atualmente passa em episódios na RTP, a Cuba Libre. Brilhante retrato, transponível para este nosso Portugal adormecido contemporâneo, de "amadores do oculto e vigaristas de tenda de circo" no tempo do episódio quase nuclear apocalíptico da Baía dos Porcos - que, recorde-se, acabou com ambas as partes a limparem a lama das respetivas faces, tendo então prevalecido o bom-senso.

Luis Miguel Novais