Riqueza, civilização e prosperidade nacional

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Europa Minha

Neste Dia da Europa - querendo significar o dia dessa pessoa colectiva de direito internacional público (com personalidade jurídica distinta dos seus membros) denominada União Europeia - que, felizmente, integra este Portugal adormecido -, ocorre-me que o respetivo volante está equivocado, dirigindo-nos na direcção errada.

Com efeito, o presidente da França, Emanuel Macron (e com ele tantos outros), tomou-se ares de novo impulso à União Europeia. E não encontrou melhor do que reforçar o eixo franco-alemão - disse ao que vinha, ouvi com atenção o debate televisionado que manteve com a sua opositora eleitoral, que fez questão de lhe frisar que a Europa não era uma nação, enquanto ele sublinhava o poder do "couple" franco-alemão.

Sucede, porém, que essa não é a União Europeia a que Portugal pertence (deve pertencer, digo eu). Em abono da minha tese (neste ponto contrária à de Macron) tenho a História. Passo a citar de "Charlemagne et l'empire carolingien", de Louis Halphen (da edição portuguesa da Editorial Início, "Carlos Magno e o Império Carolíngio", 1970, Cap. I, "O estabelecimento da monarquia carolíngia", pg. 15):

"Desde os primeiros séculos da Idade Média, os francos de Clovis e os seus sucessores tinham conseguido estabelecer o seu domínio em vastas extensões de territórios cujo contorno geográfico e composição étnica constituíam já, em grande parte, uma prefiguração do Império Carolíngio.

Aquando do seu maior alargamento, sob o reinado do Dagoberto (629-639), o seu reino englobava já quase toda a Gália, uma parte dos países renanos, a Alemânia e a Turíngia; começava mesmo a fazer sentir a sua acção na Frísia, no Saxe e na Baviera e a inspirar um certo respeito a alguns vizinhos em território eslavo. Todavia, a realeza merovíngia não passava de uma realeza "bárbara", tal como as suas semelhantes. Fundada sobre a conquista, não se propunha outro fim que o de alargar continuamente a massa territorial que constituía o seu haver e cujas partes componentes nada mais tinham de comum do que pertencerem aos mesmos donos: os Francos. Por isso se chamava a todas indistintamente "reino dos Francos" (regnum Francorum)".

A União Europeia que hoje celebramos não se fundou sobre a conquista. Nem sobre o eixo franco-alemão. Aqui, e justamente aqui, reside a sua força e valor. De resto, como resulta também do livro citado, até Carlos Magno já se correspondia com o reino cristão da Galiza, ilustre descendente da Callecia greco-romana do Porto de Portugal, que também, já então, não era vassalo do regnum Francorum.

Luis Miguel Novais