Numa semana recheada de importantes e felizes acontecimentos internacionais (com destaque para o realinhamento dos Estados Unidos da América com a Nato, com a Europa e com a Rússia, contra a China, além da louvável re-eleição por unanimidade do secretário-geral das Nações Unidas, o nosso António Guterres), leva a palma o Senhor Primeiro-ministro António Costa pela imposição, sem medos, de uma cerca sanitária à Área Metropolitana de Lisboa.
Portugal não é "Lisboa, e o resto paisagem". Ao contrário do que temos vindo a padecer nos últimos seiscentos anos. Recordo da investigação para o meu livro (ainda inédito) Princesa Rei que, no ano de 1384, Lisboa foi alvo de três cercos, um dos quais sanitário, o maior dos quais pelo arco formado pelas depois famosas Linhas de Torres. Por essa altura se começou a notar fortemente uma lesboetização de Portugal (graças aos "pagamentos" devidos por D. João I aos que o apoiaram, e à concomitante "compra" do Porto). Que não nos tem ajudado. E que, se pode ter sido compreendida à luz de uma "capital de império", hoje em dia, e sobretudo nesta terceira república, não faz sentido nenhum.
Defendo, há muito tempo, que deveríamos seguir o exemplo de outros países do nosso tamanho e maior desenvolvimento, que beneficiam de duas capitais económicas e uma capital administrativa. Falo da Suiça e dos Países Baixos. A primeira tem a capital administrativa ao centro, em Berna, e duas capitais económicas, uma a sul e outra a norte, respetivamente Genebra e Zurique. O mesmo sucede com a Holanda: Haia, Roterdão e Amsterdão. O mesmo deveria suceder com este Portugal Adormecido: capital administrativa em Coimbra, capitais económicas em Lisboa e no Porto.
Do modo como estamos organizados, neste "Lisboa não sejas francesa" que copia o modelo da "Ilha de França" (região que tem por capital a asfixiadora Paris), um espirro pode muito bem dar, mutatis mutandis, uma pandemia. Valerá uma cerca?
Luis Miguel Novais