Numa semana em que a vida profissional me deixou com a sensação de estar a nadar num esgoto, reclamando no lugar próprio a devida independência dos juízes profisssionais deste Portugal adormecido (no quadro do meu dever profissional como advogado de contrariar a velha dúvida romana sobre quem guarda afinal o guardião), soube-me bem ouvir António Costa dizer, mais coisa menos coisa: "não é possível estar na União Europeia sem aceitar, respeitar e praticar os valores que são os da União Europeia".
A afirmação do Senhor Primeiro-ministro deste Portugal adormecido "leva água pela barba". Penso que ele pensava apenas no sucedido esta semana na Itália e na Hungria. Ou então, mais ironicamente, na (primeira) emissão de dívida pública europeia (começo da NextGenerationEU). Mas a mim pareceu-me que, sem ele o saber, o seu dito também vai acabar a aplicar-se a Portugal: no quadro da acção judicial no Tribunal de Justiça da União Europeia que vai acabar por acontecer se o Supremo Tribunal de Justiça persistir em não "aceitar, respeitar e praticar os valores que são os da União Europeia", como o da independência dos juízes.
Estamos a chegar ao interessante ponto (para mim e para os demais que pensamos que é o respeito que nos iguala e une na diferença) em que valores não é apenas sinónimo de dinheiro.
Luis Miguel Novais