Pelos anos 80 do século XX, vivia eu então os meus acelerados 20 anos. Ainda hoje me surpreende o que fazíamos e pensávamos, imersos numa bolha cultural vanguardista. Por essa altura, descobri Ludwig Wittgenstein e o seu Tratactus Logico-Philosophicus, cujo centenário agora se comemora (aqui), e cuja influência intelectual ainda hoje me atravessa frequentemente o pensamento.
Tal como fez David Sylvian na sua música Steel Cathedrals, apetece-me aqui inserir uma das frases soltas por esse outro génio que foi Jean Cocteau, a propósito da então suprema novidade que era, no tempo deste, a disseminação da gravação em som e imagem: "e se Alexandre o Grande renascesse e parasse um momento para pensar, o que me falta conquistar?"... "uma máquina de jacquard, um transístor"... respondeu com ironia Cocteau. Também consciente dos limites do nosso mundo, definido pela linguagem. Conforme introduziu Wittgenstein no discurso racional, humano. Necessariamente limitado no tempo e no espaço. Que é o nosso. Feito de imagens, que traduzimos em proposições. Sons e imagens com propósito. Se estivermos de acordo sobre os pressupostos, concordaremos necessariamente com as conclusões. É lógico. Um gato torna-se um gato. O significado torna-se unívoco - enunciou Wittgenstein. O que implica todo um mundo. Ou, tão somente, o nosso (de cada um) pequeno mundo (da linguagem). Que hoje, para certa surpresa dos nossos antepassados de há 100 anos, flui num dedo de ecrã.
No princípio era o Verbo, diz a Bíblia. No fim também, acrescentou Wittgenstein.
Luis Miguel Novais