O título vem da homenagem a Dante, pelos 700 anos da sua morte, feita pelo museu das Gallerie degli Uffizi de Florença (onde tive a felicidade de viver há cerca de 30 anos) . Com o museu fechado, está online aqui. Vale a pena televisitar. Mas não é esse o tema.
"A riveder le stelle" é a bela frase que Dante emprega na sua Divina Comédia precisamente quando sai do Inferno: "E quindi uscimmo a riveder le stelle". Na respeitável tradução para língua portuguesa de Vasco Graça Moura (in A Divina Comédia de Dante Aligheri, Bertrand, 5ª edição, 2000): "e saímos voltando a ver estrelas". Na minha tradução: "foi quando saímos e voltámos a ver as estrelas".
É que a Maçonaria, a Opus Dei e outras invisíveis correntes deste Portugal adormecido têm de sair do Inferno de Dante. Sob pena de nos infernizarem a vida. Trata-se de obediências, milícias, constituídas por grupos de pessoas que integram hierarquias e pagam dízimo. São constituídas por pessoas que se querem de bem. Mas são militantes.
Sei do que falo, não por integrar alguma (que não integro), mas porque tenho amigos em ambas. Pelo meu escritório de advocacia até já passou uma pessoa cuja mãe integrava a Opus Dei e o pai a Maçonaria. Não duvido da con-vivência. Nem da bondade. Mas já senti, por mais de uma vez, a canelada ou cotovelada disfarçadas, e nas orelhas o frio da ostracização, da não pertença, do não ser "cá dos nossos".
As estrelas de que fala Dante (e que me levam, respeitosamente, a discordar da tradução de Vasco Graça Moura, um grande escritor português) são as quatro virtudes cardeais: a Justiça, a Força, a Prudência e a Temperança. Di-lo Dante, já no Purgatório. A caminho da Democracia.
Luis Miguel Novais