Riqueza, civilização e prosperidade nacional

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O porsche do maçon

O filme A Gaiola Dourada traça um feliz retrato crítico sobre uma realidade cíclica e de actualidade renovada: a da emigração dos pedreiros e porteiras, oriundos na sua maioria do Entre-Douro-e-Minho, outrora para a árvore das patacas do Brasil, agora novamente para França, Alemanha e Luxemburgo, principalmente. Hoje em dia acompanhados pelos doutores e doutoras, o que será outro filme.

Almas mais sensíveis criticam desgostosas o retrato que o filme deixa desta parte do Portugal adormecido, novamente emigrado e por isso novamente falhado, em especial a frase de um jovem francês blasé que observa que Portugal é o país de onde vêm os pedreiros e as porteiras (maçons e concierges, na língua dele).

A mim não me choca; recorda-me até a anedota que na família se costuma contar sobre a resposta que deu um dia uma tia à observação de um alemão que lhe contava que tinha em casa uma empregada portuguesa de que gostava muito: que também tinha lá em casa um pastor alemão de que gostava muito.

Podia dizer, como Mário Soares dizia no tempo da outra senhora, que os que partem "votam com os pés", votam contra. Mas não digo, porque não é verdade: estes que partem têm já liberdade de circulação, consagrada por tratados europeus, são nómadas à força, buscam emprego onde o há neste projecto de Europa in fieri que quer (?), mas não pode (?), emular os movimentos migratórios internos dos EUA.

Votem ou não, os nossos emigrantes voltam. E não é com os pés: é de Porsche (como no filme), ou com outros sinais exteriores do seu sucesso. Voltando mostram que esta Europa, assim como está, está mal, não traz futuro para este Portugal adormecido.

Uma gaiola é sempre uma gaiola, por muitas cores com que a pintem os alemães que vendem porsches aos nossos maçons.

Luis Miguel Novais