Riqueza, civilização e prosperidade nacional

domingo, 29 de junho de 2008

Enriquecer os administrados

“Investigar o fenómeno da riqueza moderna das nações, sua natureza, causas, processos e influência sobre a civilização, é procurar resolver o problema mais vantajoso no resultado à sociedade, ao homem. Até ao fim do sistema feudal, a riqueza antiga das nações consistia nos despojos dos vencidos, nos tributos dos conquistados, e no produto da escravidão das classes laboriosas, que então formavam as três quartas partes da população: esta riqueza repousava por tanto sobre a força, a opressão, e degradação da espécie humana. A riqueza moderna apresenta outro carácter, outros princípios, outros motores, e outras leis. É claro que as suas doutrinas não podem ir buscar-se nos escritos dos antigos. Os Económicos de Xenofonte e de Aristóteles, únicos escritos deste género que dos antigos nos chegaram, mal podem contar-se como pertencentes à ciência. Entre os antigos a agricultura era a única indústria que gozava de alguma reputação: as artes mecânicas e o comércio, reputados vis, eram abandonados ao exercício dos escravos e dos libertos. A riqueza era considerada um mal; e os filósofos, moralistas e legisladores da antiguidade, como tal unanimemente a condenavam. Qual seria pois o homem que se desse à investigação científica de um objecto universalmente condenado? Este desfavor de opinião produziu também um bom efeito. A indústria ficou entregue a si mesma. Os governos não imaginaram que lhes pertencia enriquecer os administrados: deixaram que o interesse seguisse o seu estímulo. Infelizmente nesta parte os governos modernos não imitaram os antigos, antes caíram no extremo oposto, de querer regrar tudo: procedimento que trouxe até hoje muitos prejuízos”. José Ferreira Borges, in Instituições de Economia Política, Imprensa Nacional, Lisboa, 1834, pgs.VII e VIII.