Riqueza, civilização e prosperidade nacional

domingo, 29 de junho de 2008

Um bem regulado comércio

“Não há coisa de maior importância para qualquer nação do que um bem regulado comércio. O tráfico de fora pode ser ou bem fonte de que estejam sempre manando forças e riquezas, ou golfo e abismo que vá insaciavelmente absorvendo todo o poder e substancia de um Estado. Não é a quantidade absoluta, mas sim a relativa, a que decide das riquezas e das forças de qualquer nação. Um Estado que, por exemplo, possui cinquenta milhões não é rico ou pobre senão quando esta soma é superior ou inferior ao cabedal que possui cada uma das outras nações com quem tem vizinhança ou concorrência. Daqui resulta que o comércio é, de todos os meios que podem enriquecer um Estado, aquele que é mais vantajoso. O comércio opera com um dobrado avanço. Isto é, ao mesmo tempo que aumenta as riquezas e forças de um reino, diminui na mesma proporção os cabedais e o poder do outro com quem trafica. É o mesmo que tirar parte do peso de uma balança, para o contrapor ou acrescentar na outra. Se cada uma, por exemplo, tinha doze libras, tirando duas de uma parte para se porem na outra, ficam quatorze contra dez. A balança comercial faz a do poder. Entre dois Estados que têm uma balança desigual no negócio recíproco considera-se que aquele de cuja parte está a diminuição faria um notório interesse quando anualmente lançasse ao mar em ouro um peso semelhante à proporção da vantagem ou da maioria que sobre ele ganha o outro Estado com quem faz o comércio. Provam esta máxima os seus autores demonstrativamente, seguindo o exemplo das doze libras que acima pusemos nas balanças. Se daquele peso tirarmos duas libras de uma balança para as pôr na outra, ficam nesta do maior peso quatorze contra dez, como deixo notado. Se porem as mesmas duas libras que se haviam de pôr na balança se lançarem ao mar, não vem a ficar na balança que guardou o seu peso mais do que doze contra dez da outra balança que arrojou parte dele no modo figurado. Como pois estes dez podem melhor resistir a doze, com a menor diferença de dois, do que a quatorze – fazendo o excesso dos quatro quase metade do todo que consiste nos dez – conclui-se que aquele Estado que arroja aquelas duas libras de ouro, se acaso as perde quando as lança ao mar, as ganha por isso mesmo quando se considera que as não tem contra si, aumentando as forças e animando os projectos de cobiça do outro Estado, para ser por ele oprimido”. Assim escreveu o Marquês de Pombal, em 1741, na Relação dos Gravames, etc. (texto editado a partir do publicado por José Barreto sob o título «Escritos Económicos de Londres 1741-1742», Sebastião José de Carvalho e Melo, Biblioteca Nacional, 1986).