Riqueza, civilização e prosperidade nacional

sábado, 6 de fevereiro de 2021

Amanda veste Prada

Nos meus 20 anos de idade também fui poeta, dramatizei palavras, musiquei-as, toquei-as, gravei-as, publiquei-as. E também sonhei ser Presidente da República. Como, agora, o fenómeno Amanda Gorman.

Claro que depois cresci, estudei, trabalhei, casei, procriei, fui/sou feliz/infeliz e, entretanto, quase atingi o limiar da sabedoria. Como nos recorda São Tomás de Aquino, a ciência das obras quer-nos tementes a Deus mas livres; humildes mas não servos. Para quê? Confesso que ainda não sei. Mais próximo dos 60 do que dos 50 anos de idade, ainda não tenho bem assentes os pés no degrau da sabedoria. 

Continuo a advogar, mais por caridade do que por outra coisa (é hoje globalmente uma profissão proletária para quem não se move pelo lucro e ainda não perdeu a Alma da Toga). Caridade, entenda-se sem equívocos: querendo significar tão somente amor desinteressado pelos outros. Talvez seja mesmo a lei de Cristo que me move. A lei do amor, sobre as leis natural, internacional, nacionais, do temor, ou da concupiscência.

Ainda escrevo poesia. Às vezes. Desde o primeiro confinamento tenho vindo a arrumar as minhas gavetas. O ano passado acabei por registar um par de títulos e manuscritos no IGAC, romances históricos que hão de ver a luz do dia como livro. Neste terceiro confinamento estou a trabalhar (por amor à cultura deste Portugal adormecido) num argumento original para uma série audiovisual e outro para um filme. Caminhos mais longos do que a poesia.

Jão não sou poeta. Ainda sonho ser Presidente da República. Mas não me parece. Não creio que a Prada me queira vestir. Nem sou telegénico como Amanda. Nem as minhas obras vendem como rebuçados. Afinal, quem me quereria para Presidente da República?

Luis Miguel Novais