A primeira morte neste Portugal adormecido imputada ao horrível vírus que nos consome, coincidiu com o anúncio público de outra morte prematura, a de um amigo: Pedro Aguiar Branco.
O Pedro e eu coincidimos no Liceu António Nobre, na mesma turma, na nossa juventude. Ficámos amigos para a vida. Coincidimos, já então, no nosso amor às Antiguidades, testemunhos de outras vidas passadas e ainda presentes. Seja por meio de objetos (a que ele se dedicou), seja por meio das letras (a que me venho dedicando). Ainda neste último Natal, falava-me de A Janela do Cardeal, que dizia que não se cansava de divulgar ("ninguém conhece", disse-me com a sua natural bondade). Dedico-lhe, por isso, as imortais palavras deixadas por Erasmo de Roterdão, há uns bons 500 anos, e que coloquei na boca do protagonista desse livro: "Se os tumultos inúmeros dos mortais pudessem ser observados da Lua, julgaríeis ver milhares de moscas e mosquitos envolvidos em rixas, guerras, insídias, rapinas, ludíbrios, lascívias, nascimentos, quedas e mortes. Não acreditaríeis nas perturbações e tragédias causadas por um animalzinho destinado a morrer". O Pedro era dos nossos, dos que amamos a concórdia.
Ao Pedro não o levou este novo vírus. O que nos recorda que devemos prosseguir.
Luis Miguel Novais
Riqueza, civilização e prosperidade nacional