Mais do que nos livros, a história dos povos resulta viva na tradição oral. Ouvi uma destas recentemente, por acaso, no balcão de uma confeitaria em Portugal, proferida em língua portuguesa e sotaque brasileiro, por uma funcionária de bela tez e feições de nativa do Brasil: "os portugueses pegaram nosso ouro", disse ela, numa conversa com os demais funcionários, como que justificando a sua imigração numa base económica multisecular.
A ironia, claro está, é que esses mesmos portugueses que "pegaram o ouro" deixaram no Brasil a língua que, não apenas nos confere uma cidadania comum (ainda virtual, mas que antevejo como inevitável), como também tem "importado" e "exportado" muitos nativos dos dois lados do Atlântico, num fluxo quase constante, desde 1500 até hoje. Desta vez, é a bela "índia" brasileira que está cá por Portugal; há uns anos, era um meu bisavô, ou uma minha prima, que estavam por lá pelo Brasil. Num vai e vem motivado por razões económicas mas também, e sobretudo, por motivações de muito grande afinidade cultural, derivada de uma língua comum.
Em dia de eleições presidenciais no Brasil, desejo tudo de bom.
Luis Miguel Novais
Riqueza, civilização e prosperidade nacional