Riqueza, civilização e prosperidade nacional

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Dos mirtilos à morte civil

Quando assumi funções de "titular de um alto cargo público", lá enviei ao Ministério Público a minha declaração de ocupações para verificação de incompatibilidades. O representante do Ministério Público, educadamente, devolveu-ma, para que eu voltasse a apresentá-la. Foi um senhor(a). Na sua leitura, segundo concluí pelas entrelinhas, por eu ter escrito advogado (que é o que sempre fui e serei, por opção profissional, independentemente de outras funções), não estava a respeitar o dever de exclusividade inerente às minhas novas funções. Dispenso-me aqui de comentar o que pensei, ou alongar-me aqui sobre a falta de tempo que tinha então para me envolver em mais polémicas (com manifestações na rua por todo o lado, por causa dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo). Limitei-me, educadamente, a devolver a declaração sem a menção advogado, e não voltei a ter notícias do Ministério Público.

Surpreendem-me, por isso, as polémicas desta semana sobre o Ministro Pedro Siza Vieira gerir uma empresa imobiliária com a mulher, e outro Secretário de Estado gerir uma empresa própria de mirtilos. O motivo da minha surpresa é, está bom de ver, a desigualdade de tratamento. Terá, porventura, o Ministério Público querido ser mais zeloso para comigo?

Ou estaremos no dealbar de uma nova fase na vida pública deste Portugal adormecido, em que a titularidade de um alto cargo público não implique a morte civil?

Luis Miguel Novais