Jornalista Eduarda Pires: É grande a surpresa no Reino Unido, com David Cameron a conseguir uma maioria absoluta, apesar de todas as sondagens que indicavam um empate, e ele a prometer um referendo sobre a permanência do Reino Unido na Europa. É a Europa que perde com este resultado?
Luis Miguel Novais: Eu penso que não. Penso que a Europa ganha. De facto foi uma surpresa, porque as sondagens assim não o indicavam, e porque após as eleições europeias de 2014 estavam três coisas em cima da mesa: uma, que o Reino Unido saísse da Europa; outra, que prosseguisse o caminho do federalismo, que é o caminho da Alemanha e da França; e a outra, que prosseguisse o caminho de David Cameron, dos Conservadores Reformistas, que é um caminho que implica que o Reino Unido pode, ou não, permanecer na União Europeia, consoante o que vier a ser decidido daqui a dois anos no referendo. Mas, até lá, dá uma enorme margem a David Cameron.
Eduarda Pires: Acha que ele não cumpre essa promessa de fazer um referendo em 2017?
Luis Miguel Novais: Sem dúvida que cumprirá. David Cameron tem liderado um processo alternativo para o futuro da União Europeia. É preciso lembrar os Portugueses que isto não tem muita comparação com a política interna portuguesa, no sentido de que, embora os Conservadores do Reino Unido sejam azuis e representem o centro-direita, o CDS e o PSD não são da mesma família, não integram o mesmo grupo no parlamento europeu. O David Cameron e os Conservadores britânicos pertencem a um grupo político europeu alternativo ao do Partido Popular Europeu, que é integrado hoje, ao mesmo tempo, pelo PSD e pelo CDS. Este caminho alternativo para a Europa que David Cameron tem vindo a liderar é, a meu ver, o caminho certo. Porque é o caminho que permite a países como Portugal manterem a sua identidade e, digamos, a desnecessidade de obediência aos países mais fortes, mais populosos e mais ricos.
Eduarda Pires: Acha que ele vai conseguir convencer os seus cidadãos a permanecerem na União Europeia?
Luis Miguel Novais: Eu acho é que esta enorme votação que lhe foi conferida pelos britânicos lhe deu um enorme poder negocial no seio da União Europeia. Para mostrar que há uma alternativa àquela via muito centralista, muito alemã e muito francesa. Penso que a União Europeia ganha com este peso diferente que David Cameron obteve com este resultado eleitoral. E isso vai notar-se nos próximos dois anos. E isso para Portugal é muito bom.
(Excerto de entrevista televisiva no espaço de opinião do Jornal Diário do Porto Canal, dia 9 de Maio de 2015)
Luis Miguel Novais
Riqueza, civilização e prosperidade nacional