Após ter banalizado a cashcow do comentário futebolístico e do comentário político, a televisão espectáculo deste Portugal adormecido explora agora o comentário jurídico. O que não me surpreende, já que não faltam juristas que gostam de se ver e ouvir dizer o que quer que seja, ou melhor, em linguagem jurídica desde os tempos de Cícero: até catalinadas.
Foi o caso a que assisti ontem do meu colega e ex-bastonário dos advogados Rogério Alves, por quem tenho consideração pessoal, a propósito do seu comentário à manchete do Expresso sobre a incrível notícia (vinda de que fonte, com qual objectivo?) de um eventual "varrimento" anti-escutas efectuado pelos Serviços de Informação no gabinete do presidente do Instituto dos Registos e Notariado.
Mas não é isso que devem fazer os Serviços de Informações? Obter informações sobre actos que possam fazer perigar o próprio Estado? Do Rogério Alves jurista esperar-se-ia a prudência jurídica, a juris prudência, no comentário sobre a intervenção de um organismo de Estado noutro, e não o pronto disparar da pistola do ílicito - que hoje vem amplificada na imprensa, citando-o, naquilo que será, quiçá, um júbilo fumegante, mas certamente não jurisprudente.
A reflexão sobre os eventuais limites da actual banalização do mal e perigos da falta de ética do jornalismo televisivo vieram trazidos, agora mesmo, às salas de cinema pelo filme Nightcrawler - Repórter na Noite, que recomendo ao Rogério Alves e aos demais leitores que pensam ser de preservar a decência social e o Estado de Direito por meio de serviços e tribunais e não nas televisões espectáculo.
Luis Miguel Novais
Riqueza, civilização e prosperidade nacional