Total:

Riqueza, civilização e prosperidade nacional

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Cautela

Os nossos políticos decidiram lançar na agenda mediárica a última distracção circense: depois da rifa, chega agora a cautela. Mandam dizer que têm dúvidas sobre a necessidade de um programa cautelar, que ainda não está decidido...

Quem assim se expressa, das duas uma: ou não conhece a realidade, ou está a pedir um cartão vermelho.

A realidade, tal como vem expressa no último relatório do FMI (de Fevereiro de 2014), que nesta parte factual é incontrovertido, é esta: "as necessidades de financiamento de médio prazo são grandes, atingirão cerca de 7 por cento do PIB anual em cada um dos próximos anos"; o que, trocado por miúdos, quer dizer o seguinte: o relatório do FMI faz contas até final de 2019 e conclui que, por cada um destes próximos cinco anos, as necessidades de Portugal se financiar no estrangeiro (mercados ou muletas) manter-se-à em níveis similares aos actuais: "New borrowing and debt rollover", "Billions of euros" (ou seja, novos empréstimos e rolamento da dívida, em milhares de milhões de euros): 140.3 (em 2014), 135.0 (em 2015), 133.2 (em 2016), 127.2 (em 2017), 131.6 (em 2018), 131.1 (em 2019).

Cito do quadro da pg.45 do referido relatório do FMI, que ainda acrescenta algumas evidências: o rating de Portugal está no nível em que está ("sub-investment grade"); as maturidades das dívidas acabam de ser prolongadas por mais sete anos ("On June 21st 2013, ECOFIN has decided to extend the average maturity of EFSM loans by 7 years"); haverá dependência das contingências globais (digo eu, por ex. guerra na Ucrânia?), e é fundamental a estabilidade política para atrair investimento estrangeiro...

Já os romanos diziam que cautela não faz mal a ninguém (cautela non nocet), ao que acrescentaram os Portugueses o seguinte adágio: "o homem prudente deve cuidar no passado, ordenar no presente, e com muita cautela prover no futuro" (cito do Bluteau).

Passará pela cabeça de alguém prudente pôr a cautela de lado outra vez?

Luís Miguel Novais