O mundo mudou (outra vez) esta madrugada. Como de costume, ainda não nos apercebemos bem das consequências da mudança - ninguém prevê o futuro. Mas os Estados Unidos da América (EUA) apresentaram, há momentos, um mapa da sua Operação Midnight Hammer contra o Irão. Mapa que faz com que qualquer pessoa minimamente esclarecida sobre questões de segurança e direito internacional, dos BRIC aos NATO e demais, compreenda que esta é uma das mudanças pivotais.
Em termos de segurança internacional, a utilização pela primeira vez em combate dos aviões B2, voados do meio dos Estados Unidos da América, através do Atlântico e do Mediterrâneo, invisíveis, reabastecidos em voo, carregados de bombas destruidoras dos bunkers mais profundos, e regressados ao Missouri, intactos, não é apenas uma novidade. É uma grande mudança. A partir de hoje, qualquer potência, mais ou menos bem intencionada, na realidade qualquer um de nós, pensará que, a partir de casa, sem necessidade de bases externas ou autorizações de aliados, os EUA não só podem, como fazem cair bombas avassaladoras em qualquer lugar - o que demonstraram para o Atlântico vale também para o Pacífico, porque o mundo é redondo. E à mesma distância do Missouri fica o resto.
Em termos de direito internacional, onde vale o precedente enquanto fonte de Direito (já que ninguém acredita que o Conselho de Segurança das Nações Unidas venha a estabelecer uma Resolução em contrário, que será sempre vetada pelos próprios EUA), o que fica estabelecido, depois da Operação Martelo da Meia-Noite, é que soberano que se sentir ameaçado, sem prévia declaração de guerra, opera cautelarmente ataques em território alheio. Nada, de resto, que o próprio Sheriff Trump I não tivesse já pensado e lançado. Como, de resto, escrevi há praticamente uma década, por exemplo, em 16 de agosto de 2016 (Trump e a Nato), ou em 17 de abril de 2017 (O polícia e os sinaleiros).
O nosso mundo mudou (outra vez). Ainda bem que o Sheriff não é pelos maus. Embora isto de xerifes...
Luis Miguel Novais
Post Scriptum: uma clarificação técnica sobre os bombardeiros utilizados é de rigor. No texto refiro-me como B2 ao novo B21. O primeiro, com 35 anos de serviço, já fez vários bombardeamentos e impressionantes longas viagens. Fiquei com a impressão de que utilizaram no Irão, pela primeira vez, o novo. Posso estar enganado. O que não contende com a conclusão política: um ataque destes, voando furtivamente sobre o Atlântico e o Mediterrâneo até ao Índico, e volta, é uma grande mudança, em termos de segurança internacional.