O Canadá é um fascinante enorme país, o segundo maior em área, com uma das dez maiores economias do mundo, onde tenho amigos com quem já trabalhei, mas que ainda não tive oportunidade de visitar. Penso fazê-lo, porém. Sei que tenho tempo. O Canadá não se vai tornar num mero 51º dos Estados Unidos da América. O seu chefe de Estado, Mark Carney, afirmou-o ontem na Casa Branca, polida mas firmemente, declinando o "convite" do presidente Trump.
Na realidade, desde ontem, o Canadá representa a América. Aquela América de que o presidente Trump II se pretende apoderar, ao menos virtualmente. Mas não culturalmente. A América representa para nós, cidadãos do mundo que bordejamos o Oceano Atlântico, uma extensão de uma espécie de expansão multi-secular de uma civilização oriunda (para não ir mais longe) das muito diversas repúblicas (cidades-estado) gregas, onde surge pensada e escrita numa nossa língua a ideia de democracia e liberdade regrada pela lei. Que se expandiu depois para as terras itálica, gálica, britânica e ibérica. Que vieram a dar lugar a impérios e colónias, misturas e novidades, cores e sabores. Um Novo Mundo, a América. Continente ainda hoje nomeado a partir do nome do italiano Américo Vespucci, que esteve ao serviço das navegações dos reinos de Portugal e Espanha; Américo, quando regressou do Brasil, afirmou que aquilo não era Índia, era mesmo América.
Os meus amigos americanos, do sul ao norte, da Argentina ao Canadá, são na sua imensa maioria pessoas que de MAGA não têm nada. Que nunca deixaram de pensar a América como uma grande coisa, expoente da tal expansão civilizacional com mais de 2500 anos, que é a nossa, de todos - europeus, africanos e asiáticos conjugados. América que, entre muitas outras excelentes coisas, desde 1776 até hoje, tem transportado a tocha da democracia e da liberdade regrada pela lei pelo mundo fora. Mantendo as idiossincrasias próprias do multiculturalismo que fez com que, por exemplo, o Novo Testamento fosse escrito em grego. Ou que o Canadá se assuma como poliglota e aberto à imigração, uma monarquia constitucional que já tem um rei, o da Commonwealth.
A lição de savoir-faire que Carney deu ontem a Trump II tornou a América great, again.
Luis Miguel Novais