Riqueza, civilização e prosperidade nacional

domingo, 11 de dezembro de 2022

Navalheiras

Ao assistir à derrota da seleção nacional de onze por onze no Mundial do Qatar observei que a equipa de Marrocos se identificava através de leões, e mostraram ser reis. É tempo, por conseguinte, de re-pensar o animal nacional representativo da nossa república: definitivamente, galispos não chega para bater leões.

De todo modo, galos até já estava ocupado (pela França - veremos, agora, se os deles são mais astutos). E leões, águias, dragões, panteras negras, etc. é muito divisivo, não é aglutinador, não é, por conseguinte, nacional. Interessa-nos um animal que consiga traduzir aquilo que somos, e sempre fomos, como se pôde observar em mais este Kibir, em que o comandante português não conseguiu coordenar as equipas da guarda (encabeçada pelo grande velho Ronaldo) e a nova ala dos namorados (encabeçada pelo cerebral Bernardo) - na realidade, o comandante seguiu a tragédia portuguesa do ziguezague (dando e retirando poder a cada uma das facções), sem conseguir o efeito de uma bela caldeirada de marisco à portuguesa. A mistura não resultou e foi pena, claro.

Porque me parece que o animal que nos identifica deve precisamente vir do mar, sugiro as deliciosas navalheiras. Fica bem em termos de design e também em inglês, porque se traduz por velvet crab, ou seja: caranguejo de veludo (que é o que é, quando lhe passamos a mão pelo pêlo). Além de bonito, é delicioso, sabe mesmo a mar, e é de um ziguezaguear astuto, cortante. Penso que nos serve à perfeição. Remato esta minha sugestão com uma anedota que um amigo meu me contou que corre no Minho: entra um padre num comboio com um balde destapado cheio de navalheiras. Pergunta um dos passageiros: então o senhor padre não tem receio que lhe escape alguma do balde? Responde o sábio sacerdote: não se preocupe, meu amigo; estas navalheiras são portuguesas; basta que uma tente trepar, que logo outra a puxa para baixo.

Luis Miguel Novais