Quem faz o favor de me ler já sabe que aprecio muito a História Natural de Plínio, um meu colega (jurista, gestor, autor) que foi contemporâneo de Jesus Cristo.
Segundo nos narra seu sobrinho e herdeiro Plínio (o jovem), o sábio Plínio faleceu, ou melhor desapareceu, na erupção de 78 d.C. do vulcão Vesúvio.
Ao observar (pela televisão) as impressionantes imagens do atual vulcão em erupção nas Canárias, recordei os Plínio, porque o jovem afirma que o sábio embarcou de Nápoles pelo golfo em direção a Pompeia levado pela sua curiosidade natural. E, se bem recordo as suas Cartas, nelas afirma que o sábio terá acabado por falecer intoxicado com os gases que soltava o vulcão. Gases que, observando agora as reportagens das Canárias, não são letais? Não existem, neste caso?
Outro fenómeno extraordinário da natureza ocorreu esta semana na Califórnia, onde um incêndio obrigou à cobertura com folhas de alumínio do General Sherman. Esta extraordinária árvore gigante, por muitos considerada a maior árvore do mundo, já viveu muitas coisas, nos seus estimados quase 3.000 anos de vida. E, desta feita, sobreviveu com mão humana de ajuda.
A mesma mão humana que, observarão os Plínio e Sherman, pouco faz para proteger a nossa casa comum. À medida que sobem os preços dos combustíveis fósseis, já se houvem vozes a clamar pelo erro da aposta nas energias renováveis, como se respeitar a natureza pudesse ser um erro - a observação técnica de que a rede de energia assim não funciona é, ademais, ignorante (qualquer estudante liceal deve conhecer, para além da banda rock, a diferença entre AC-DC: os circuitos de corrente alternada ou direta de eletricidade).
A um mês da COP26 (a 26º Cimeira das Nações Unidas dedicada às alterações climáticas), ficam estas notas aparentemente contraditórias: passados 2.000 anos de História Natural ainda não conhecemos a plenitude dos fenómenos vulcânicos, insistimos em depender dos combustíveis fósseis mas, do mal o menos, ainda nos damos ao trabalho de proteger árvores sábias.
Luis Miguel Novais