Ter nascido em famílias de industriais abriu-me o horizonte para lá das fronteiras nacionais. Os meus pais levaram-me aos grandes museus de arte e ciência de Londres e Paris, coisa que já tive oportunidade de replicar com as minhas filhas. Um dos meus museus favoritos de sempre é o, recentemente reaberto, Science Museum de Londres, agora com a oportuna exposição Our Future Planet (a que, sinal dos tempos, apenas tive acesso parcial online, aqui).
O título é mesmo sobre estufas e não sofás. Estufadores somos nós todos, que criamos gases de efeito de estufa a um ritmo, hoje, insustentável. Desde logo, porque somos muito mais pessoas e animais na Terra. Mas também porque dependemos absolutamente de energia e alimentação que (ainda?) liberta e faz acumular gases que criam um efeito estufa na atmosfera - essencialmente carbono (indústria e transportes) e metano (agricultura e pecuária).
É curioso que o conceito de estufa tenha estado connosco há tanto tempo. Consultei o Dicionário de Morais (edição de 1889), e aí vem a definição de Estufa, na grafia original: "recinto fechado cuja temperatura se eleva por efeitos artificiais; galeria envidraçada para conservação de plantas de paizes quentes, ahi preservadas dos frios do inverno; há estufas para seccar assucar, e tambem para evaporar a humidade de outros corpos... É uma estufa, diz-se de um recinto muito quente".
De regresso ao nosso século, aprendi imenso com a Climate Talk "Our Future Planet: Global Greenhouse Gas Removal" (que recomendo vivamente, aqui). Conversa séria de boa divulgação científica sobre como, nos últimos 150 anos, fizemos subir em um grau centígrado a temperatura da Terra (facto mensurável e medido, para aqueles que não acreditam no nexo com secas, fogos, chuvas e inundações contemporâneos); sobre como, se nos esforçarmos muito, todos, lá para o meio do século lograremos "apenas" mais um grau (que é melhor do que os dois a mais, certos se não fizermos nada) - não vou ser spoiler, vale mesmo a pena ouvir.
Esta semana, pelo Jornal Oficial da União Europeia (C302, de 28 de julho de 2021), ficámos a saber quem são os estufadores, por país europeu, em milhões de emissões industriais "essenciais" (isentas de taxa de carbono):
1. Alemanha, de longe em primeiro, com 634 milhões;
2. França, Itália, Espanha, Polónia, Holanda e Bélgica, cada um com cerca de 200 milhões;
3. Os restantes 20, com menos de 100 milhões cada um (este Portugal adormecido com 42 milhões de emissões "grátis").
É bem certo que, também esta semana, a Alemanha (na sequência das recentes inundações de efeito estufa), viu aprovada pela mesma União Europeia autorização para verter uns biliões na redução das suas emissões.
E é bom que comecemos todos a agir em conformidade (seja reduzindo as emissões, plantando árvores, ou sugando o carbono pela engenharia). Para não passarmos de estufadores a estufados.
Luis Miguel Novais