Riqueza, civilização e prosperidade nacional

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Telecracia na América

Democracia na América é o título do livro, hoje clássico, que ainda vale muito a pena ler, publicado em 1835 por um jurista francês, Alexis de Tocqueville, após uma visita aos então recentes Estados Unidos da América. Juntamente com um relato vivo e maravilhado, previu, entre outras coisas, que um dia teriam um presidente de raça negra. Mas não previu, como é evidente, que depois disso a televisão seria o grande amplificador social que viria a determinar o resultado das eleições, uma vez que dá a conhecer razoavelmente bem os candidatos em debate, por passarmos noventa minutos a televê-los e teleouvi-los sobre pontos essenciais da sua futura governação e, porque não, do seu caráter reativo, sem teleponto.

Enquanto fazia madrugada para assistir em direto ao histórico debate Clinton-Trump via CNN, perguntava-me se seria mesmo azar o nível dos candidatos atuais ou se, pela primeira vez, estaríamos realmente a observar o nível dos que chegam a ser candidatos e depois presidentes da democracia na América. É uma pergunta de retórica, claro. Nunca saberemos a resposta. Mas ontem ficámos a saber que a política e a economia estão, hoje em dia, realmente separadas (só na América?). Que Trump é o candidato da economia e Clinton a candidata da política. Que o primeiro daria um razoável chefe de governo, com um chefe de Estado a moderá-lo. Que a segunda daria uma razoável chefe de Estado, mas não uma boa chefe de governo.

Graças à telecracia na América, já ficámos a saber que a escolha da maioria do povo americano vai ser entre política ou economia. Mas graças ao sistema de democracia na América já sabemos que é uma escolha envenenada: o presidente dos Estados Unidos da América acumula a chefia do Estado com a chefia do governo. Como nenhum dos candidatos vale para os dois, já não vale a pena falar de tragédia à grega, é mesmo uma tragédia americana a que se avizinha.

Luis Miguel Novais