A indignação do povo deste Portugal adormecido manifestou-se por diversas vezes no passado que nos une. Ocorre-me uma vez, por exemplo, em que um rei que dizem que era belo mas tonto e casmurro, D. Fernando, nos quis entregar a Espanha, porque não conseguiu conquistá-la. Não teve hipóteses, escavacou a dinastia afonsina, sucedeu-lhe um seu meio-irmão que, segundo o cronista, estava a jeito com a espada na mão, fundou a dinastia dita de Avis e criou a Ínclita Geração que nos levou à Índia, ao Comércio, às Colónias e à Glória (em maiúsculas, como deuses gregos).
Hoje, o cavaquistão está adormecido, os santanistas misericordiosos, os barrosistas não espevitam os cascos nem os cornos, ao contrário dos belos e casmurros bois de Barroso, e o bom do Marcelo Rebelo de Sousa estava encavacado até às orelhas no seu último comentário televisivo, à cautela, enquanto assistia ao um a um de Passos Coelho sobre Cavaco Silva no domingo. Eu e os militantes do PSD que não votámos na actual direcção estamos, por assim dizer, gagos, hoje, perante a nova composição do Governo de coligação PSD/PP. E só me ocorre um chavão: P...p...psd. Se não estiveramos gagos, estaríamos tomados pelos pp... Fundidos, se não estiveramos ainda gagos.
Em língua inglesa diz-se que you can't unring a bell, não se pode destocar um sino. Depois das cartas de demissão dos ex-ministros Gaspar e Portas, o inusitado e inadmissível volte-face de Cavaco, a casmurrice de Passos (o vencedor dos marradores), poderá este novo Governo de Portugal, ainda por cima, fundir o PP com o PSD? Estou gago... P...p...psd.... Pppsd?... Esperaremos, indignados, pelas maiúsculas?... O centro-direita começa a ficar órfão de partido.
Luis Miguel Novais
