Acabo de visualizar a impressionante entrevista a Steve Bannon (Inside the mind of MAGA: a conversation with Steve Bannon, Insider – The Economist, 23 de outubro de 2025). Imperdível.
No final, a entrevistadora pede-lhe um paralelo histórico: quem seria ele na atual revolução americana — essa que Bannon proclama sem disfarce, vendo em Donald Trump um novo Moisés ou Cincinato e sustentando que cumprirá um terceiro mandato, contra a Constituição dos Estados Unidos. A resposta surge instantânea: Robespierre.
Por instantes, pensei que Bannon, no seu pragmatismo incendiário, tivesse tocado num nome justo. Há em Robespierre — como outrora em Benjamin Franklin — uma lucidez moral, uma fé na virtude republicana, no poder da ideia que purifica o poder.
Mas Franklin foi a razão com método, a república com medida; Robespierre, a virtude sem travão, a justiça que devora a sua própria legitimidade. Um acreditava no pacto civil, o outro na salvação política.
E é talvez aqui que se revela a tragédia do nosso tempo: entre o iluminista que constrói e o jacobino que promete purificação. Onde é que eu já vi isto?
Pensando melhor, não era Franklin nem Robespierre. Saiu-nos, afinal, um Frankenstein.
Luis Miguel Novais
