Vivemos (mais uns) dias extraordinários nesta nossa nave especial. A The Economist chamou à sua capa o Grito de Munch, com razão. Um grito silencioso, mas visível, impactante. Um abalo telúrico no sistema monetário internacional como o conhecemos até aqui, desde os Acordos de Bretton Woods, de 1944. Aqueles que deixaram de reconhecer o padrão-ouro, erigiram (na prática) o dólar americano em moeda de troca internacional, criaram o Banco Mundial e ainda o Fundo Monetário Internacional. Em que assentámos, nos últimos 81 anos.
Estive de acordo com o sistema económico do presidente Trump I (2017-2021). Estou em total desacordo com o sistema económico do I love tariffs e drill baby drill do presidente Trump II (2025-?). Penso que ele próprio, agora, também. A criação de uma espécie de Muralha da China virtual na América, com o sistema tarifário hiperbólico, levou a uma reação brilhante da China: em lugar de responder com a mesma moeda, minou o próprio sistema monetário de Bretton Woods, oferecendo aos de fora da nova Muralha da América o Yuan Digital, para substituir o bom velho Dólar nas transações internacionais.
Não é nada que a China não tivesse tentado antes. Mas agora doeu. Como se começa a notar, com o recuo de Trump II. A ver se ainda a tempo de deixar intacta a boa velha porcelana herdada.
Luis Miguel Novais