Riqueza, civilização e prosperidade nacional

domingo, 23 de agosto de 2015

Verões de Portugal corrupto

Em 8 de setembro de 1520 estava o nosso rei D. Manuel em Évora, a ordenar punir com duras penas os oficiais corruptos deste Portugal adormecido, segundo leio, com gosto, nas "Ordenações da Índia do Senhor Rei D. Manuel", editadas por António Lourenço Caminha, na grafia da edição de 1807:

"E vendo nós quanto dano, e prejuizo, e assi escandalo, e nosso desserviço se segue, de os officiaes averem de receber dadivas, e presentes, e como até qui nom foi provido á cerca disso, como em semelhante caso se devia, e era razão de se fazer: Ordenamos, e mandamos que ninhū nosso capitam das nossas fortalezas, que nessas partes temos, e ao deante tevermos, alcaydes moores, ouvidores, feitores, escrivães das feitorias, almoxarifes, e escrivães delles, e todos quaesquer outros officiaes da fazenda, e de justiça, e de qualquer outra qualidade que sejam, que nessas partes tevermos, nom recebam ninhūas dadivas, nem presentes de ninhūas pessoas de qualquer qualidade que sejam, quer com eles tenhão despacho de seus officios quer nom, e quem o contrairo fezer, perderá qualquer officio, ou officios que tever, e mays paguará vinte por hum do que receber, ametade pera quem o accusar, e a outra metade pera a nossa camera. E aquelle que o tal presente, ou dadiva der, ou enviar, sendo o tal pessoa que destes reynos fosse, perderá toda sua fazenda, ametade ysso mesmo pera quem o accusar, e a outra metade pera nossa camera".

Sonhos de uma noite de verão, como diria Shakespeare.

Luis Miguel Novais