Há palavras que parecem inventadas para provocar. Floridificação é uma delas. À primeira vista soa a capricho tropical, a palmeira de cartão no areal da Caparica. Mas não é disso que falo. Falo de fiscalidade. Falo de como um país como Portugal, cansado de se olhar ao espelho e ver rugas e dívidas, poderia reinventar-se ao espelhar a Florida.
Este Portugal adormecido gosta de discutir o acessório e esquecer o essencial. O país está envelhecido, endividado, e ao mesmo tempo dependente de um sistema fiscal que sufoca quem produz. Todos reclamam, mas poucos ousam propor uma verdadeira reforma estrutural. Pois aqui fica a provocação: e se nos tornássemos a Florida da Europa?
A Florida é um dos estados mais prósperos dos Estados Unidos da América. Não cobra impostos sobre o rendimento pessoal. Apoia-se em dois pilares: impostos sobre o consumo e impostos sobre a propriedade. Acresce uma terceira fonte, crucial — os turistas, que pagam uma parte substancial da fatura do Estado. Em suma, quem consome paga, quem visita contribui, e quem investe tem segurança.
E este Portugal adormecido? Temos um dos mais pesados sistemas de IRS da Europa, uma máquina fiscal que retira rendimento líquido à classe média e desincentiva a criação de riqueza. Ao mesmo tempo, oferecemos sol, mar, vinho, património e segurança. O mundo quer vir para cá. Mas em vez de aproveitarmos essa vantagem competitiva, persistimos em taxar o trabalho e a poupança até à exaustão. Deixando os nossos filhos emigrar por melhores salários - que poderiam logo obter com menos IRS.
Uma verdadeira floridificação fiscal significaria reduzir drasticamente o IRS, simplificar o IRC, e apostar na tributação do consumo e da propriedade, com justiça social e limites claros. Quem mais consome, mais contribui. Quem adquire casas de luxo, paga. Quem visita, também. E quem trabalha e empreende respira. E só emigra se quer.
Dir-me-ão: “mas isso não chega para financiar o Estado social português”. Pois a questão é essa — se queremos manter a ilusão de um Estado gordo e ineficiente, nada chega. Se, pelo contrário, queremos um Estado ágil, centrado no essencial — educação, saúde, segurança, justiça, infraestruturas — então chega e sobra.
A Florida atraiu reformados, investidores, empreendedores digitais, turistas, milhões de pessoas. E Portugal, que já tem clima, cultura e paz, poderia atrair ainda mais, se tivéssemos coragem política para virar o sistema fiscal do avesso - como, de resto, foi feito em 1988.
O caminho é claro: menos imposto sobre o rendimento, mais imposto sobre o consumo e a propriedade, sobretudo de quem vem de fora e usufrui do país. É isso a floridificação. É isso que nos falta para deixar de ser um país adormecido e passar a ser, finalmente, Europa. A Florida da Europa.
Esta reflexão não é apenas um exercício teórico. Surge a propósito da enésima discussão orçamental, onde se fala de décimas e centésimas de PIB como se isso fosse mudar o destino do país. Não vai. O que mudaria, sim, seria uma reforma corajosa, que rompesse com o círculo vicioso de mais impostos, menos liberdade, mais fuga de talentos. “Floridificar” Portugal é ter futuro. Querem?
Luis Miguel Novais
Post scriptum: texto elaborado com as saudáveis tabelas comparativas e o auxílio textual do meu bot do ChatGPT 5 (OpenAI). Sem alucinações. Os números quadram.