Riqueza, civilização e prosperidade nacional

domingo, 8 de junho de 2025

Sem olhos em Gaza

Conheço bem a Bíblia. Mal seria um escritor não conhecer aprofundadamente este livro mágico, religioso, humano e sobre-humano. Composto a muitas mãos, em muitas línguas, durante muitos anos, de Abraão a Jesus, durante um período de cerca de dois mil anos para cada lado, ou seja, cobrindo cerca de 4000 anos de humanidade.

Na Bíblia (vou citar da minha: Paulus 1993, 4ª edição portuguesa, 2000), vêm narradas as várias guerras, já então, em Gaza (ou Azzah). Desde o Pentateuco, no Deuterónimo (possivelmente do século VII a.C.), também chamado projeto de uma nova sociedade (que ironia, já então através da guerra e ocupação violenta do alheio): "Quanto aos Aveus, que habitavam nos campos até Gaza, os Caftorim saíram de Cáftor e exterminaram-nos, habitando depois o seu lugar" (Deuterónimo 2:23). Chegando Gaza aos Livros Proféticos, em Jeremias 25:20 (posterior a 586 a.C.), o livro do vento quente e forte da fidelidade no Direito e na Justiça.

O título deste texto, claro, tomei-o emprestado a Aldous Huxley (Eyeless in Gaza, 1936). Sempre me impressionou. Cegos. Há tantos anos. E não apenas em, mas agora uma vez mais também, em Gaza. Nunca mais aprendemos. Felicidades aos ativistas que desafiam os invasores de Israel e do Hamas no seu pequeno veleiro Madleen a caminho de Gaza. Por cujas velas sopra o vento quente e forte do respeito pela humanidade em paz, nossa condição natural.

Luis Miguel Novais