Riqueza, civilização e prosperidade nacional

segunda-feira, 2 de junho de 2025

O modelo Gabor

A notícia do despedimento coletivo de mais de 200 trabalhadores na fábrica de calçado alemã Gabor, em Silveiros, Barcelos, no norte deste Portugal adormecido, deverá fazer-nos refletir sobre a atualidade com vista ao futuro.

Conheço o calçado Gabor fabricado em Portugal porque é muito bom (sou cliente) e porque se fabrica no terreno que foi de uma quinta de uma minha bisavó, praticamente ao lado do cemitério onde jaz meu pai. Foram já meus avós quem vendeu a quinta, nos anos 80 do século passado. Quando para aqui se transferia parte da produção industrial do norte da Europa, em busca de mão-de-obra boa e barata (fruto da nossa adesão ao mercado comum europeu). Tinha a Gabor Portugal, até agora, cerca de mil trabalhadores, sobretudo mulheres, excelentes. Mas com dois grandes defeitos (de modelo de investimento estrangeiro) que vão tornar doloroso o processo (eventual) de retoma: em primeiro lugar, não é um negócio autónomo, depende totalmente da empresa-mãe na Alemanha (aqui se fabricam, por lá se vendem os sapatos), ou seja, sem margens próprias (provavelmente assente em preços de transferência); em segundo lugar, e não de somenos, são trabalhadores sindicalizados, o que certamente dificultará a redução de remunerações - já de si, infelizmente, assente em salários baixos -, afugentando o capital.

Gostava de poder ajudar. Parece impossível. E não será caso isolado. É aqui que entra o Estado. Um modelo errado?

Luis Miguel Novais