Este Portugal adormecido despertou aturdido de uma surpreendente madrugada eleitoral, com uma vitória clara da Aliança Democrática de Luis Montenegro, outra vitória surpreendente do Chega de André Ventura e uma derrota pesada do Partido Socialista de Pedro Nuno Santos. E mais com este, toda a esquerda (que não subiu, com a excepção quase residual do Livre, beneficiando do varrimento do Bloco de Esquerda). O que quer dizer, na impecável lógica da batata, que os votos que saíram do Partido Socialista voaram na direção dos vencedores.
Uma análise mais fina dos resultados, a todos os títulos surpreendentes, do Partido Socialista: há um ano, contou com
365.507 votos a menos? A Aliança Democrática subiu 140.765 votos, e o Chega subiu 236.778 votos. O que perfaz 377.543 votos. Suficientes para justificar a hipótese de uma transferência do eleitorado que havia votado Partido Socialista para a Aliança Democrática e para o Chega. Mas numa proporção aparentemente surpreendente: mais de metade terão ido para o Chega.Gosto de adivinhar as invisíveis correntes que se movem na nossa sociedade. Aqui me parece vislumbrar mais uma: a ala radical do Partido Socialista, protagonizada por Augusto Santos Silva e José Luís Carneiro, deu uma golpada, votou no Chega. Não sei, digo eu.
O que não surpreende, atentando na golpada que derrubou António Costa e fez emergir, de imediato, José Luis Carneiro como candidato, entretanto derrotado pelas alas moderadas, em manobra de Master Spinner.
A golpada de ontem produziu resultados já visíveis à superfície: de imediato, rolou a cabeça de Pedro Nuno Santos. A quem fizeram a cama, em que se deitou involuntariamente, com a falta de prudência que lhe é natural.
Cenas dos próximos capítulos deste Macbeth: a tomada do Partido Socialista pela sua ala radical. Se os demais permanecerem adormecidos, claro.
Luis Miguel Novais