Riqueza, civilização e prosperidade nacional

quinta-feira, 21 de março de 2024

Master Spinner

Numa bizarra cerimónia nocturna, foi hoje de madrugada indigitado o novo Primeiro-ministro, Luís Montenegro, a quem (apesar de nele não ter votado) naturalmente desejo felicidades, em prol deste Portugal adormecido e entretanto abalado pela obtenção de 50 (em 230) deputados pelo novo player Chega, do candidato a tudo André Ventura.

Saiu de cena (provisoriamente) o anterior Primeiro-ministro António Costa, o merecedor Master Spinner do título. Ambos os Montenegro e Ventura merecem ser tratados por Spinners da prolítica (não é gralha, é epíteto dos que misturam futebol com política, panem cum circenses). Mas o Master é mesmo Costa.

Eis, pois, em resumo, a visão de um contemporâneo que não se sente Sancho Pança, nem desmente D. Quixote sobre os monstros invisíveis dos moinhos de vento. É a minha opinião (mera suposição, claro) sobre o recentemente sucedido neste Portugal adormecido e ainda molhado pelo banho de democracia: 

- Costa fez um acordo de regime com a maçonaria autoritária, que já vem do século XIX e é hoje liderada por Augusto Santos Silva (que deseja ser Presidente da República, para o que terá de me derrotar em campo aberto democrático e não nas sombras de onde sopra vento para cima de mim, cá no Porto, que é tão meu quanto seu);

- Costa, que já havia dominado a ala esquerdista do Partido Socialista (hoje liderada pelo seu compagnon de route Ferro Rodrigues), e também a maçonaria moderada (pela evicção épica de João Soares, que foi ministro por um dia e calou-se), sentiu-se tão impune que afrontou Marcelo Rebelo de Sousa no episódio Galamba;

- Tudo lhe corria tão bem, a Costa da maioria e trapalhada absolutas, que até Ferro Rodrigues se sentiu memoriável: veio a terreiro com o seu livro "Assim vejo a minha vida", lançando a questão filosófica fundamental: "O precipício está próximo. Ainda há tempo?"

- Augusto Santos Silva sentiu-se traído por António Costa: afinal havia, agora, outro presidenciável no Partido Socialista. Ferro Rodrigues fazia-lhe (faz-lhe) sombra. Mandou avançar o seu Carneiro de serviço com as silenciosas tropas da PSP (sendo de notar o modo como 200 agiram em silêncio) sobre São Bento. O Ministro da Administração Interna tinha que ser um traidor ou incompetente para não saber. O que Costa compreendeu, de imediato.

- O Master Spinner, honra lhe seja feita, não nos saiu um ditador - por isso lhe dedico todas estas linhas de despedida (?). Com a invasão da PSP (dirigida às notas da Biblioteca) imediatamente se demitiu (com o empurrãozinho de Marcelo Rebelo de Sousa, noblesse oblige dos pratos frios da galambada). Mas ficou em funções, claro.

- E o Master Spinner ainda fez mais: escolheu um sucessor para Secretário-Geral, o prometedor (mas ainda aprendiz de feiticeiro) Pedro Nuno; e arregimentou as duas outras alas do Partido Socialista (recorde-se, a esquerdista de Ferro Rodrigues e a maçónica moderada de João Soares), para dar uma lição a Augusto Santos Silva e seus Carneiro.

Onde entra o Chega (cavalgando as Casas do Benfica deste país e diáspora, por onde veremos doravante passear descontraídamente o nosso Master Spinner, et pour cause também benfiquista, agora também comentador!?)... é pano para outras mangas. Segue.

Luis Miguel Novais