Na sua infinita sabedoria de escárnio artístico, esta semana, a Isabel saiu-se com esta: "és uma alma velha". E tem razão. Desde o virar do milénio, quando me foi dado compilar e escrever o Virados para a Lua, tenho sentido uma ingente necessidade de descobrir os escuros seculares que encobrem o passado da minha alma.
Como aí se diz, a páginas 63:
"Seguramente pouco aterrados, mais alunados, os terráqueos corpos.
Corpos, fatos da mente espacial.
Corpo e mente, distintas substâncias, assim possibilitadoras da liberdade humana e da imortalidade.
Conversar com pessoas de outros séculos é o mesmo que viajar.
Este ensaio foi escrito mentalmente. Entre voos e leituras, idas e voltas ao meu abrigo, aéreo Porto. Obrigado Leonardo, Sebastião José, Renato, N, Paulo, LM et alter.
Respeitando alguma arbitrariedade dos factores. Real e virtual.
Na visita à floresta, em frente da ilha dos corpos fátuos, perto de Bilbao, aprendi que um viajante, tendo-se perdido numa floresta, não deve andar de um lado para o outro, nem tão-pouco parar no mesmo lugar; deve caminhar sempre no mesmo sentido e nunca retroceder por razões fracas, ainda que tenha escolhido esse caminho por mero acaso. Deste modo, mesmo que não chegue precisamente onde deseja, logrará acabar por chegar a algum sítio. Onde estará, certamente, melhor do que no meio da floresta.
Casa.
Segundo a calculadora e linguagem universal que a ideia de Leibniz (antes de todos) concebeu, não somos mais de trezentos e trinta e três milhões e trezentos e trinta e três mil e trezentos e trinta e três viajantes a contribuir para o progresso humano.
A sério, contados na Internet".
(Virados para a Lua, Luis Miguel Novais, Edição do autor, 2007)
Os trágicos recentes eventos meterológicos do dilúvio na Europa e onda de calor na América vieram recordar-nos que estamos a aquecer incomportavelmente a nossa Casa comum. Segundo os dados da NASA, os últimos sete anos são dos mais quentes desde que há registos (ver aqui). Mas incomparavelmente mais quentes, mesmo descontando a grande redução que se deu durante os confinamentos globais da pandemia - essa espécie de Acto de Deus da qual as almas velhas, como a minha, haveremos de retirar as devidas consequências de progresso.
Perdidos no meio da floresta...
Luis Miguel Novais