Riqueza, civilização e prosperidade nacional

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Uma vantagem da Europa

Vezes demais queixamo-nos da União Europeia e sua complicada teia de enredar as nossas vidas. Por mim falo. Mas, para sermos justos, temos de reconhecer que, como na fábula de Esopo, precisamos de uma União Europeia para não cairmos no ridículo do corvo que quis imitar a águia e acabou sem asas numa gaiola.

Uma vantagem da Europa (União Europeia, ou Estados Unidos da Europa que fossem) como enorme bloco de consumidores, nestes tempos de interligação global eletrónica, é a capacidade de cortar asas aos corvos que são hoje as grandes corporações orientadas para o lucro a todo o custo, usufruindo da facilidade de uma infraestrutura de distribuição, que é a internet, e a nossa natural tendência para a lei do menor esforço.

Assim chegamos a este ponto de hoje em que navegar na internet nos nossos telefones, tablets ou computadores significa (sem nos apercebermos) estar a dar (literalmente) aos corvos da fábula tremendas quantidades de informação sobre a nossa vida privada, desde as nossas preferências à nossa própria localização, e não apenas a actual, também as passadas.

Dados que são recolhidos, processados e vendidos (!), sem nós sabermos, claro. Aqui entra a águia União Europeia e o importante trabalho de enfrentar os corvos através da imposição de regras de privacidade adequadas a este novo mundo digital. Sucedeu novamente esta semana, através de uma proposta de lei formulada pela Comissão sobre os cookies e outros bichos horrorosos que os corvos utilizam para nos pilhar às escondidas.

Ontem mesmo, fiz uma sessão de revelação de técnicas de corvos às minhas filhas. Para grande espanto delas, mediante uma simples consulta aos seus iphones, revelei-lhes onde tinham estado nos últimos meses, com datas, horas, locais e localizações no mapa e tudo. Não sou mago, nem espião, limitei-me a aceder ao local das definições dos telefones onde é necessário desligar o gravador que ninguém sabe que lá está, mas está lá sem autorização de ninguém.

Dizer que é ilegal em Portugal não é o mesmo que dizer que é ilegal na União Europeia, como está bom de ver. Basta pensar nestas propostas novas multas que vão até aos 2% do volume de negócios. A ver se os corvos se comportam.

Luis Miguel Novais