Riqueza, civilização e prosperidade nacional

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Salvação da Pátria (com passagem pelo Brasil)

Leitura noturna de excerto de uma incursão de Eça de Queiroz na não-ficção (texto publicado na Revista de Portugal, em 1890; republicação Centauro, Babel, em 2010, in Textos Políticos de Eça de Queiroz):

“Decerto ao general Deodoro foi agradável e vantajoso passar de um comando numa província remota ao governo absoluto da Nação, com cento e vinte contos de lista civil, um palácio para habitar, honras régias e a adulação de todos: mas é bem possível que o general Deodoro muito sinceramente acreditasse (visto que assim lho afirmavam os que da sua espada necessitavam) que ele, e só ele, podia fazer a felicidade do Brasil. E, de resto, a História está cheia de exemplos em que chefes militares muito candidamente viram no seu engrandecimento pessoal o meio único de promover a regeneração nacional.

É claro, claro como o sol, que não há o mínimo, o mais remoto sintoma de que possa surgir entre nós um general ambicioso. Mas dar uma importância suprema ao elemento militar é preparar o elemento propício ao desenvolvimento possível dessas ambições. Querer sistematicamente afastar esta suposição, declarando que «tal é impossível, que tal nunca se dará na nossa terra, porque o exército sabe o que deve à honra, e à pátria, etc.», é fazer acto de imprevidência ou de ingenuidade, ambas culpadas. O homem de Estado, digno desse nome, deve tudo prever, tudo calcular – e ter sempre presente que os homens são homens, nascidos com as paixões humanas, e não anjos, abstracções ou princípios encarnados. Eis de resto tudo o que convém dizer; porque nisto se encerra tudo o que convém meditar”.

Palavra da salvação.

Luis Miguel Novais