Riqueza, civilização e prosperidade nacional

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Guarda Mor do Pinhal

Estes terríveis incêndios na floresta deste Portugal adormecido, que se repetem todos os anos pelo verão, não são exclusivamente acto da natureza, nem exclusivamente acto de criminosos; são também, essencialmente, um acto de má governação.

O melhor exemplo que encontro para ilustrar a possibilidade de governar bem a floresta é o do Pinhal de Leiria. Que se saiba, ainda não ardeu violentamente. E tem uns bons séculos de idade. Apesar dos riscos a que sempre esteve submetido, tem sobrevivido sem grandes incêndios. Como? Através de diversos actos de governação. E que não vêm de agora (se calhar pelo contrário, está em maior risco agora, a avaliar pelas vigias ao abandono que lá encontrei no ano passado).

Um desses actos de boa governação (de que tomei conhecimento aquando da investigação para o meu próximo livro e aqui partilho), é o do Regimento do Guarda Mor do Pinhal de Leiria, de 1751, do Marquês de Pombal. Aí se definem as obrigações dos diversos intervenientes no pinhal, desde o Guarda Mor (cuja designação me parece auto-explicativa das respectivas funções) até às dos diversos funcionários públicos que intervinham na manutenção (da limpeza à contabilidade, passando pela vigilância e etc.) e reparação (da substituição à replantação) da floresta.

Um problema que já não é novo, portanto. O mal, como o risco de grandes incêndios, existe sempre. Não há maneira de exterminá-lo. Mas há maneira de geri-lo, mitigá-lo. A isso chama-se governação. E corresponde a uma necessidade evidente, considerando que cerca de um terço do território nacional é coberto por floresta e há mortes a lamentar.

Fazer o trabalho de casa é, também, observar o que funciona, para depois aplicar a receita àquilo que não funciona. O Regimento do Guarda Mor do Pinhal de Leiria de 1751 é, por isso, de leitura obrigatória para os nossos governantes neste (mais este) trágico verão. A solução existe, há que aplicá-la.

Luis Miguel Novais

P.S. de 16.08.2016: texto republicado na edição de 14.08.2016 do jornal Diário de Notícias