Riqueza, civilização e prosperidade nacional

terça-feira, 1 de julho de 2008

Os dois ciclos da língua portuguesa

A história da língua portuguesa será de encarar "como repartida em duas grandes unidades cíclicas, reflectindo a história da ocupação do território, a formação do estado e os grandes movimentos da nação. O primeiro grande movimento a considerar pode ser apresentado como uma transplantação inicial da língua, que parte da sua área inicial na Galécia Magna para se derramar pelo resto do território europeu, onde se sobrepõe ao árabe que as populações reconquistadas falavam. O segundo movimento, igualmente para sul, consiste em um salto para fora da Europa. Com as Descobertas, a língua instala-se em ilhas atlânticas desabitadas, nos litorais africano e asiático que ofereciam suporte às rotas marítimas, e ainda no litoral brasileiro. Se, em todos estes pontos a língua nunca perdeu o mar de vista, o mesmo não se passou no Brasil. Aí, vemos os portugueses a entrar pela terra dentro nos séculos XVI e XVII, coisa que só no século XIX é que fariam em Angola e Moçambique. Estes dois movimentos sucessivos de crescimento da língua portuguesa permitem-nos reconhecer a presença e acção de dois ciclos evolutivos, separados por uma cesura no séc. XV: a) o ciclo da Formação da língua, que decorre entre os séculos IX e XV na esteira da Reconquista do território dos árabes; os povos do norte transplantaram a sua língua para o sul, onde ela se transformou pelo contacto com a língua local e ganhou, a partir do séc. XV, ascendente sobre os dialectos do norte, tornando-se a base de uma norma culta de características meridionais, que seria vista como a língua nacional. b) o segundo ciclo é o da Expansão da língua: o período do séc. XV a inícios do séc. XVI é aquele em que a língua mais radicalmente se transfigura. Enquanto se reestruturava e consolidava dentro de portas, a língua portuguesa começa a expandir-se para fora da Europa, pelo que, a partir de então, é preciso distinguir entre português europeu e português extra-europeu". Ivo Castro, Introdução à História do Português, 2ª edição, Edições Colibri, 2006, pgs.74 e 75.