Riqueza, civilização e prosperidade nacional

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Cullotes Amarelos

Uma reportagem no canal televisivo Sic de Portugal sobre os "coletes amarelos", nas ruas de França por estes dias, deixou-me esta frase de um dos manifestantes a ribombar pela cabeça: "liberdade já temos, falta igualdade e fraternidade".

A ligação à Revolução Francesa de 1789 é evidente. E aquela frase, além de uma evidência subjacente, comporta já um manifesto político que vai muito para além da mera patetice ou do vandalismo de rua. Sendo de recordar que a revolução de 1789 também começou com meras arruaças, antes sequer de ganhar o mote que agora é de bom tom pelo mundo, e parece inspirar já os novos "sans culottes" como programa revolucionário.

Não resisti a consultar uma das antologias de política que mais prezo, para me recordar um pouco mais daqueles tempos, prevenindo com passada sabedoria aquilo que por aí parece já vir de futuro. Refiro-me à obra em dois volumes On Politics, de Alan Ryan, mais precisamente ao volume segundo, a páginas 617 e seguintes, de onde retiro estas pérolas soltas sobre a anterior revolução francesa, com relevância futura:

- "desde o início, a revolução foi intelectualmente discutível e politicamente imprevisível

- no processo, os revolucionários demonstraram o que Madison temera: que o povo soberano podia comportar-se pior do que os próprios monarcas que haviam destronado

- nesse mesmo processo revolucionário acabou criado o nacionalismo na sua forma moderna

- o processo conduziu à ditadura, não do povo soberano, mas do auto-proclamado imperador Napoleão Bonaparte

- o que nem chegou a ser novo, e é mesmo um padrão milenar, já que assim sucedera também, por exemplo, no tempo de Roma, onde da revolução também nascera a ditadura militar

- o fascismo foi uma forma de acabar com a revolução

- o comunismo uma forma de completá-la".

Ao que podemos agora acrescentar, segundo as palavras do citado "cullote amarelo": o socialismo vigente também não realizou a utopia, que afinal se não resolve com a célebre boutade "é a economia, estúpido". Daí a rua.

Rua que, segundo os padrões citados, não apenas não resolve o problema, como... até acaba a eliminar a própria liberdade. Que tantos séculos demorou a conquistar.

E que tal regressarmos aos conceitos de justiça e misericórdia?

Luis Miguel Novais